sábado, abril 26, 2008

EU CONTRA OS SONHOS COMUNS.

Multiculturas. Olhando o folheto, pensei em contratar a empresa. Muito bem feito o folheto. Multiculturas. Cada personagem simbólico das principais culturas do mundo estaria representado por alguém. O preço... era caro, mas era uma superprodução internacional. Tinha que ser caro mesmo. Um cowboy na capa com outros caras do lado. Acima, o logotipo da empresa, e abaixo, as formas de pagamento. Parcelando em 3 vezes, deu uns 300 dólares por parcela, pelo que me lembro. Dei a ordem e quitei a primeira. As outras duas ficaram agendadas.

Uma semana e meia depois, recebo um telegrama em inglês. Era marcando a data da visita: fim de semana, um sábado. Visita marcada, fiquei esperando. Minha madrinha veio aqui pra casa. Aqui em casa é isolado dos grandes centros urbanos e a rua é de terra. Mas, tudo bem, se estava pago, eles viriam. Fiquei esperando. Após o almoço, a campainha tocou. Era uma limusine preta. Veio um anão. Um anão de terno. Educadíssimo, me disse as instruções em portuñol. Pedi que me falasse em inglês. O “espanhol” dele não era muito bom e eu não gosto muito também. Chamei todos de casa pra ver. O anão era o “mestre da festa”. Um ajudante do anão saiu do carrão e trouxe por volta de umas dez cadeiras, colocou uma ao lado da outra, acompanhando a parede do corredor. Nós ficamos em frente às cadeiras. Bem, as portas traseiras da super limusine se abriram e saíram uns dez tipos diferentes, Índio Sioux, Latino americano, Nativo da papua nova guiné, coreano, etc, todos com suas roupas típicas e acessórios. As figuras pitorescas vinham em fila e se sentaram nas cadeiras. O pessoal lá de casa não se empolgou muito, mas eu fiquei tirando fotos deles para minha pesquisa antropológica. Beirava à perfeição os tipos, trejeitos, costumes. Eram personagens. Eu podia conversar com cada um. Tinha um tempo pra fazer isso. Analisei um por um. Quando o tempo acabou, o anão ordenou-os a voltarem pro transporte e me disse para aguardar. Mais 3 turmas de personagens viriam. A tarde estava passando. Chegou a segunda turma. Saíram. Chegou a terceira. Saíram.




Chegou a última turma para fechar a visita paga. Era liderada por um típico cowboy norte-americano. Era o Tommy Lee Jones! Eles se sentaram para serem analisados, como fizeram os anteriores. Minha mãe estava do meu lado e começou a questionar quem era ele. Ele não entendia nada, não entendia português, mas sorriu sentando na cadeira. Eu disse a ela que ele era aquele ator americano, de filmes policiais e tal. Ela lembrou. Eu me surpreendi com ele ali em casa. Não lembrava da capa do folheto. Ele vinha na capa do folheto de venda da Multiculturas. Li em algum lugar que ele tinha se aposentado dos filmes. Então agora ele estava trabalhando para a Multiculturas! Chamei rapidamente minha madrinha que estava no quarto da minha irmã. Minha madrinha é fanática por ele. Ela veio e começou a gritar. Ele sorriu mais ainda. Estava estático na cadeira. Ela falou com ele (em português). Não entendendo nada, ele fez uma cara simpática e sacou uma caneta... minha madrinha devia querer um autógrafo dele, deve ter pensado. Minha madrinha abraçou ele e a cadeira junto. Depois, pegou o autógrafo. Enquanto tudo isso acontecia, eu já tinha quase analisado todos os outros. A visitação estava quase no fim e minutos depois acabou o tempo. O dia já quase escurecia. Tommy Lee Jones levantou-se da cadeira junto com o grupo e foram para a limusine e o anão entrou na parte da frente. Eles entraram atrás. Então o vidro de trás abriu e Sr Jones deu um sorriso pra gente, se despedindo. Valeu a pena contratar a Multiculturas! Esse foi meu sonho de terça passada.