domingo, novembro 01, 2020

EU CONTRA O FIM.

É só isso, não tem mais jeito, acabou. - como diria a poeta Vanessa da Mata. Não sei o que dizer, só palavras.

É... meu amigos cinéfilos, tudo passa, tudo passará.. - como diria o poeta Nelson Ned. Perdemos o Roger Moore anos atrás e ontem o Sean Connery se foi. Isso só me faz pensar mais ainda na existência. O meu avô tinha um bando de discos e livros de inglês, inglês britânico mesmo, ele ia pro segundo andar da casa pra estudar. Era o melhor inglês, dizia. Inglês britânico. Pra mim o segundo andar da casa da vovó era tipo uma caverna, um mistério - pra uma criança lembrar dessas coisas, na imaginação era porque tudo é maior e sombrio. Para uma criança macabra com eu que assistia filmes de terror, era então o máximo do sombrio. Gostava de ir lá em cima. Chegava lá, meu avô tava com uns fones, ele botava uns headfones gigantes e repetia as falas dos discos, tudo em inglês. GOOD NIGHT, THANK YOU, etc... Eu não entendia nada, ficava só olhando. Aí lá também tinha um banheiro e um muro muuuuito alto que dá pra trás da casa, 2 outros mistérios. O banheiro ninguém ia lá. O muro parecia tão alto que não dava pra ver o que tinha atrás e parecia mais alto ainda porque eu sempre lembrava que não estávamos perto do chão "de verdade", além de eu e minha irmã sermos crianças, obviamente. Era um misto de querer e não querer olhar por cima do muro.

Isso de medo só acaba quando tu tem heróis, certo? Talvez a psicologia explique mas, se não explicar, posso escrever a minha versão: quando a pessoa tem seus heróis pode ser que pense "o que o Superman faria nessa situação?" Como se viraria quando seu lanche caiu no chão? Herói da infância não é o mesmo herói da juventude, um fato isso. Na juventude (ainda usam essa palavra?) podemos considerar 007 como o herói escolhido por mim, talvez porque as tramas dos filmes de ação sejam mais complexas de desenhos de animados e gibis pra um adolescente (ainda usam essa palavra?). Nessa coisa de descobrir os filmes, ou redescrobrir eles, já que foram assistidos na TV anos antes e, com a chegada da internet ao mundo (leia-se meados da década de 1990), acabei descobrindo que Sean Connery foi o 007! Que dodeira é essa? Pra mim 007 era unicamente Roger Moore. Tirando isso, tinha um impostor que aparecia nos posters da locadora de filmes (um cara chamado Goldeneye hahaha) e eu realmente não sabia que Connery tinha sido o primeiro 007 oficial do cinema, acreditam? Internet me salvou pra conhecer todos, até aquele momento eram 5 atores 007. Minha cabeça explodiu! Mas depois de ver todos os filmes de 007 até então, os meus favoritos eram mesmo Moore e Connery. Colei os pôsteres dessas duas lendas na minha janela. Pôsteres? Tá.. não era bem isso... era uma foto de cada, tamanho FOTO mesmo, tipo de porta-retrato padrão (ainda existem porta-retratos?). Aí gravava os filmes de James Bond quando passavam na TV, e também não demorou muito e comprei os filmes em VHS (ainda existem VHS?). Os britânicos Moore e Connery eram a personificação do herói pro público mais adulto talvez? Acho que sim, as histórias do Ian Fleming, o criador de 007, eram publicadas na Revista Playboy (ainda existe a Playboy?) nos anos 1960. Então sim, eram os heróis de quem já tinha idade pra ver esses filmes, por causa do conteúdo de ação e violência (tem até um filme em que uma cabeça explode).

Pra mim, com minha maturidade eu sempre achava meu avô um herói. No início desse ano finalmente visitei a Paraíba mas fui facinho só pra capital, não fui lá na cidade dele: Mamanguape, no interior e pro sul do estado. Olha a distância de lá aqui no Rio: 2.522 km!! E pensa nisso há 1 século (100 anos atrás) alguém vir pro Rio pela estrada e fazer a vida aqui nas indústrias de tecido, além de ter que manter 6 filhos!!! Meus avós foram guerreiros de carne e osso. Agora minha avó deve estar fazendo seus bolinhos de fubá, ela fazia quando íamos visita-los no final de semana, eram quentinhos, ela cortava quadradinhos. Eram quadradinhos pequenos pra gente adulta mas incrivelmente grandes pra mãos de crianças (minhas e da minha irmã). Era um desafio não deixar cair nenhuma migalha no chão, acho que eu conseguia. Vou perguntar pra minha irmã se ela conseguia, sempre esqueço de perguntar a ela, impressionante. Lá se vão uns 30 anos. E o meu avô, ah o meu avô com certeza deve estar lá no segundo andar com os livros grossos de inglês britânico e praticando seus "good night" com o Roger e com o Sean, 3 heróis conversando nesse momento. Thank you, grandpa!